Criado em 1970, o Rango é um dos personagens mais longevos do humor gráfico brasileiro. Talvez porque o país tenha tanta dificuldade de lidar com o leitmotiv da tira: a miséria. Foi criado como a reação possível, num contexto de censura, a uma baita contradição: o miserê crescente nas ruas... sob o silêncio total a respeito. Superado esse período de censura bruta, foi possível aprofundar o assunto, e o Rango passou a pensar nas causas e consequências da miséria, ou seja, a própria estrutura social e econômica do Brasil. Fiel a um humor que esclarece (desde a primeira coletânea em 1974 e com a bênção poderosa de Erico Verissimo), o pensador do monturo encara agora a crocodilagem ambiente. Traição, o termo (segundo o Houaiss) tem mais acepções na língua do vulgo: sacanagem, hipocrisia, cinismo, fingimento etc. Tudo o que temos sofrido nestes tempos de tremendo retrocesso pós-golpe, desde 2016. E o velho Rango, desde 2007 no mensário Extra Classe, de Porto Alegre, segue firme no seu papel de cronista, na boa tradição da tira brasileira. A luta continua.
CROCODILAGEM RANGO POR EDGAR VASQUES
Criado em 1970, o Rango é um dos personagens mais longevos do humor gráfico brasileiro. Talvez porque o país tenha tanta dificuldade de lidar com o leitmotiv da tira: a miséria. Foi criado como a reação possível, num contexto de censura, a uma baita contradição: o miserê crescente nas ruas... sob o silêncio total a respeito. Superado esse período de censura bruta, foi possível aprofundar o assunto, e o Rango passou a pensar nas causas e consequências da miséria, ou seja, a própria estrutura soci
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